LIBERDADE
Da pena de ouro sobre o branco papel, materializava-se a
ordem que libertaria o negro. Isabel, num ato de amor, usando do poder real,
comandada pelas forças de luz, libertava os corpos das correntes e ferros em
brasa, mas não podia libertar suas almas aprisionadas pelo ódio gerado no sofrimento.
Soltava os pássaros da gaiola, mas eles estavam com as asas cortadas e já não
sabiam voar. Por isso, diante dos perigos da selva, onde imperava a lei da
sobrevivência, muitos se perderam.
A pele negra ainda era negra e, embora liberta pela lei,
continuava atrelada à ignorância e ao preconceito. "Negros não possuem
alma", diziam os brancos. Talvez não a tivessem mais, pois a dor suportada
por seus corpos já havia consumido a lisura de suas almas, nas quais haveriam
de permanecer muitas feridas pelo tempo afora. Era a força do carma tentando
esgotar pesadas dívidas do passado, ao encontrar diferentes modos de
entendimento em cada coração.
(...)
A paz que seu coração sentia pelo dever cumprido era
perturbada pelo constante assédio dos inimigos invisíveis, em freqüentes noites
de insônia. Dor que ainda perdurou no exílio, longe do país que aprendeu a amar
e onde terminou os seus dias.
Quando, enfim, a brandura da morte a buscou, pode rever de
outras paragens o resultado que o bem oferta às almas dele praticantes. Negros
de almas brancas a recebiam em festa e, junto deles, ainda hoje pode abrandar a
dor daqueles que não compreenderam a lição, mantendo suas almas enegrecidas.
Labuta ainda a princesa, seja arqueando as costas de quem a
recebe, na simplicidade inerente aos pretos velhos, ou como mentora daqueles
que fazem as leis. Conforta os brancos de almas negras, tentando libertá-los da
escravidão de seus próprios egos, na esperança que se cumpra a Lei Áurea em sua
plenitude. Tantas vezes ainda desce aos porões desta grande senzala, cortando
as correntes que mantêm presos espíritos ainda cristalizados em suas lembranças
escravas.
Liberdade aos vossos espíritos, abençoados filhos desta
terra que tanto amo! Com respeito e amor, daquela que um dia vestiu a roupagem
de princesa.
*Mensagem transmitida de Aruanda por Vovó Benta, um espírito que, por necessidade de aprendizado, também foi escravo no passado.
* Texto extraído do livro "Enquanto Dormes - A caridade
que também se faz ao apagar das velas no terreiro"/ pelo espírito Vovó
Benta; [psicografado por] Leni W. Saviscki. Editora do Conhecimento.
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